ESTUDO DE MERCADO

ESTUDO DE MERCADO


Se em Portugal fosse desenvolvido um estudo de mercado sobre o setor funerário, que conclusões tiraria?

Desde logo devemos colocar algumas premissas:

1) A esmagadora maioria das pessoas sentem-se desconfortáveis em planear antecipadamente os serviços. Isto implica, que os familiares têm de decidir em momento de luto todos os pormenores do funeral e o seu planeamento.

2) A compra de serviços fúnebres é difícil, sensível e desafiadora. A decisão sobre os custos muito carregadas de emoção, dado que, na esmagadora maioria das vezes, os preços são discutidos cara a cara com o técnico funerário. Estes, habitualmente apoiam-se em tabelas de preços abrangentes, para conseguirem explicar a natureza dos seus serviços e o valor final do funeral e nem sempre facilmente entendíveis pelos enlutados.

3) Apresentação de um orçamento escrito com a descrição dos custos já aprovados e previsão dos encargos variáveis e não conhecidos com exatidão naquele momento, consolidados num contrato assinado pelas partes.

4) A preferência crescente da cremação como destino final que potencia alguma simplificação nos procedimentos e pouca valorização dos serviços propostos, nomeadamente, a urna, flores e tanatopraxia só para dar alguns exemplos.

5) A presença cada vez maior da oferta de serviços funerários na web e divulgação de tabelas de preços online, sem contudo, deixarmos de acreditar que é essencial uma conversa pessoal e conexão de confiança com a empresa no momento da compra dos serviços funerários. 

6) O elo de ligação ao culto religioso, quer por convicção quer por tradição é um fator habitualmente decisivo para o planeamento da cerimónia fúnebre e nas decisões a esta associada.

7) O planeamento do funeral em meios urbanos tende a ser mais íntimo e personalizado em pleno contraste com os funerais realizados em meios rurais em que as agências funerárias distribuem inúmeros avisos de participação.

Em 2018 foi realizado um estudo no Reino Unido para realizar pesquisas com 1000 pessoas que tinham organizado um funeral nos últimos 5 anos. Os resultados mostraram que 97% dos entrevistados ficaram satisfeitos com os serviços prestados, 83% consideram boa relação custo-benefício e 84% agora valorizam mais os serviços e a experiência do agente funerário.

Há uma tendência crescente (e preocupante) de supor que por causa do luto as pessoas são vulneráveis e por isso, facilmente influenciáveis a gastar acima das suas posses e que os funerários são fundamentalmente gananciosos. A verdade é que estar vulnerável não significa necessariamente ter falta de capacidade para fazer escolhas e fica implícito que um bom técnico funerário tem todo o interesse em ajudar na escolha dessas opções.

O estudo concluiu ainda que 84% dos entrevistados que vivenciaram essa experiência de contratar um funeral não comparou os preços de várias funerárias, com 66% que já sabiam qual a funerária que iriam escolher, 39% disseram que o custo não era o fator mais importante na decisão. Apenas 7% afirmaram não saber comparar os preços das diversas funerárias, 25% dos entrevistados disseram que manter os custos baixos era uma prioridade e só 4% disseram que escolheram a agência funerária mais barata que encontraram.

Tal como acontece com muitas outras compras do consumidor, é verdade que qualquer coisa diferente do básico poderá ser considerado supérfluo. No entanto, essas pressões são tipicamente sociais, e não de dentro do setor funerário. Se, por um lado, os familiares procuram concretizar “a despedida adequada” e “torná-lo pessoal” (56%), manter o preço baixo foi o sétimo critério mais importante (25%).

As agências funerárias não têm qualquer interesse em encorajar as famílias que dizem estar em dificuldades financeiras em gastos excessivos e a pressionar escolhas de opções específicas. O estudo revelou que 72% dos entrevistados discutiram as opções com o técnico funerário não tendo sentido nenhuma pressão para a escolha e 22% que não sentiram muita pressão. Parece-nos pois que uma conclusão óbvia é que não há incentivo em fornecer serviços desnecessários ou supérfluos se a conta concomitante maior não for paga posteriormente.

O funeral não é diferente da compra de outros produtos e serviços para importantes marcos da nossa vida, como um batismo ou casamento e estamos convictos que, em consequência desse estudo de mercado, a profissão funerária surgiria, não apenas com orientações valiosas e importantes, como deve evoluir e ser mais capaz de entregar e compreender a necessidade dos consumidores, no futuro.

Carlos Almeida | Presidente da Direção