REFORÇO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA ADULTOS MENOS QUALIFICADOS

REFORÇO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL PARA ADULTOS MENOS QUALIFICADOS


Os próximos anos serão, necessariamente, de recuperação. A recuperação não será, no entanto, nem rápida, nem linear, seja no terreno da crise sanitária, seja, sobretudo, no terreno da crise económica e social, onde a recuperação, para ser efetiva, terá de assumir muito mais a forma de uma transformação acelerada do que a de um simples regresso à situação pré-pandemia. A própria transformação das realidades económicas e sociais, para ter sucesso, requer a construção de novos equilíbrios humanos e sociais promovendo, entre outros aspetos, a convergência e a união do que agora surge, quase sempre, em conflito e contradição, senão mesmo em oposição: privado e público, individual e coletivo, liberdade e solidariedade, competitividade económica e coesão social, eficiência e equidade, estilo de vida e ecologia. A pandemia da Covid-19 encontrou a economia portuguesa “a meio” de uma transição relativamente longa para um novo paradigma competitivo imposto pela concorrência acrescida nascida da aceleração da globalização.

O grau em que a digitalização pode causar desemprego é uma questão em debate, mas não há dúvida de que haverá uma renovação ao nível de cada posto de trabalho. Será, assim, necessário gerir a mudança: algumas ocupações desaparecerão, outras surgirão, e outras ainda sofrerão profundas transformações no seu conteúdo funcional.

A transformação contínua também requer, assim, uma mudança nos sistemas de proteção social existentes. Estes não devem apenas ser focados no apoio a grupos tradicionalmente mais vulneráveis, como crianças, idosos ou desempregados, mas também direcionados àqueles que estão empregados em funções que se tornarão obsoletas a médio prazo. Uma mudança das formas tradicionais de educação e formação, alargando o seu âmbito para todo o ciclo de vida será fundamental. Para isso, é necessário superar a rigidez institucional de muitos dos sistemas atuais de educação e formação, adaptando conteúdos e formas de aprendizagem que potenciem a complementaridade entre aquilo que nos distingue enquanto pessoas e a tecnologia.

A importância das políticas públicas é evidente: mais do que identificar riscos, desafios e oportunidades, é importante O Futuro do Trabalho traz-nos novas modalidades atípicas de trabalho, novas formas de gestão das empresas e novos modelos de trabalho, sendo disso sintomáticos o trabalho remoto, o teletrabalho, o trabalho realizado em plataformas digitais e o nomadismo digital, que o Estado, em articulação com a sociedade civil, saiba dar-lhes respostas adequadas, em nome dos valores que marcam o Estado Social de Direito, da dignidade do trabalho e do futuro das próximas gerações.

Neste contexto, em sede de linhas de reflexão, é decisivo e prioritário lançar uma Agenda Estratégica de modernização e reforço da formação profissional, em particular da formação contínua; que importa reforçar a elevação da base de qualificações, em particular entre os adultos menos qualificados; que se deve generalizar o acesso a competências digitais para todas as gerações, incluindo as gerações com maiores défices a este respeito.

Carlos Almeida | Presidente da Direção